Sou de um tempo em que 100% da construção civil de Santa Cruz da Baixa Verde era alimentada com “tijolo maciço”, “comum” ou “tradicional”. Ninguém levantava uma casa com blocos de furos, motivo pelo qual existiam várias “olarias” na nossa cidade. Era comum encontrarmos em nossa pequena Santa Cruz famílias que viviam do fabrico daquele tipo de tijolo. Não esqueço dos jumentos em fila indiana, rua acima e rua abaixo, carregados de carga tão pesada. Na verdade era o principal meio de transporte daquele material, que era levado do local de seu fabrico até a construção de destino. Hoje, pouca gente constrói com esse tipo de tijolo. A preferência é construir com blocos de seis ou oito furos. É mais prático, mais leve e dependendo poderá sair bem mais em conta do que o tijolo tradicional.
Outro dia, caminhando pela cidade me deparei com um senhor trabalhando no fabrico de tijolos. Há muito que não via alguém naquela atividade. Lembrei-me dos velhos tempos. De quando passava pelas olarias e ficava a observar a agilidade dos meninos que cortavam tijolos para depois empilhar. Alguns eram colegas meus. Cortando e empilhando... Não tinham muito tempo para brincar. Quando muito, sobrava-lhes tempo para irem a escola.
Curioso, perguntei aquele senhor sobre a necessidade de enfrentar trabalho tão cansativo e engenhoso. Ele me respondeu que estava trabalhando no fabrico de cerca de vinte mil tijolos que serviriam para venda e construção de sua casa própria. Disse ainda que estava aproveitando o fabrico e tirando o barro do local onde pretendia construir, para que ficasse nivelado com os outros terrenos. Despedi-me do conterrâneo e sai pensando comigo mesmo: “que idéia inteligente!”.
E assim segue a nossa Santa Cruz da Baixa Verde! Quando menos esperamos encontramos no meio desse povo humilde e trabalhador verdadeiros guerreiros! Desafiando gigantes conseguem edificar nossa cidade com carinho e determinação!