sábado, 25 de junho de 2011

SOBRE A CRATERA DE PANELA...

"Origem de cratera intriga pesquisador"

MATA NORTE Estudioso de buracos abertos por meteoritos busca vestígios em açude de Paudalho. Ele já identificou o formato, mas fará análises química, estrutural e mineralógica

Aos olhos dos vaqueiros da Fazenda Cajueiro, em Paudalho, a 40 quilômetros do Recife, na Zona da Mata Norte, o açude da propriedade é como tantos outros da região. Um lugar onde o gado mata a sede e, ocasionalmente, se toma banho. Mas, para o pesquisador Pierson Barreto, trata-se provavelmente de cratera aberta por um meteorito.
Com 350 metros de diâmetro, o buraco, hoje ocupado pela água graças a uma barragem, tem a forma elíptica. “É uma das características dos buracos abertos pelo choque dos meteoritos”. Apresentar a morfologia de uma cratera de impacto, no entanto, não é o suficiente. Ainda há três pré-requisitos que devem ser preenchidos ? a estrutura, a mineralogia e a composição química ? para que a lagoa de Paudalho, na localidade de Guadalajara, seja classificada como tal.
Pierson, que desde 2009 está à caça de crateras de impacto no Nordeste, relata que muitas dessas estruturas foram formadas entre 16.000 e 12.900 anos atrás, quando a Terra passou da época plistocênica para a holocênica. “Foi a chamada Era do Gelo, quando cataclismos com chuvas de meteoros se abateram sobre o planeta.”
O arquiteto, com mestrado em desenvolvimento urbano e doutorado em recursos hídricos pela UFPE, encontrou a paleolagoa analisando imagens do satélite Google Earth. “Trabalhei com crateras de impacto no Sertão de Pernambuco e do Piauí. Como estou envolvido num projeto de divulgação científica, precisava de uma mais perto, para levar os professores de alunos. Daí cheguei até a de Paudalho”, relata.
O pesquisador marcou para retornar ontem ao local, com um grupo de dez professores e dois alunos da Escola de Referência em Ensino Médio Ginásio Pernambucano, do Recife, para fazer o reconhecimento da cratera. O projeto, apoiado pelo Consulado da Alemanha, visa despertar o interesse científico tanto dos mestres, quanto dos estudantes.
No local, Pierson coletou várias pedras. Como não dispõe de laboratório para a investigação mineralógica, ele vai se ater à observação da estrutura. A intenção é verificar se são impactitos, ou seja, rochas formadas a partir do impacto dos meteoritos. “Há muitos quartzos fraturados, o que é um indício de cratera de impacto. Quando o meteorito se choca com o solo, origina rochas metamórficas como essas”, descreve.
A primeira cratera apontada por Pierson como meteorítica foi a de Panela, no município de Santa Cruz da Baixa Verde, a 445 quilômetros do Recife, no Sertão. Com a ajuda de um computador, Pierson projetou a trajetória do cometa. Ela coincide com o ângulo descrito por populações pré-históricas em sítios de pinturas rupestres datadas em 3.200 anos.
A cratera está numa localidade chamada Panela de Triunfo. É que a formação geológica lembra uma panela e Santa Cruz da Baixa Verde era distrito de Triunfo. A depressão rochosa foi formada pelo impacto do meteorito, a 4,2 quilômetros por segundo.
Segundo Pierson, o cometa pode ser visto num raio de 300 quilômetros da Panela de Triunfo. A arte rupestre da região se constitui num registro pictórico de um fato real que impressionou os índios pelo barulho e o clarão.
Há pinturas axiais, que se constituem na imagem convencional do fenômeno, com o núcleo à esquerda e a cauda à direita, como nos presépios católicos. E radiais, em que o cometa é visto de frente e fica parecido com uma hélice.
O pesquisador lembra que cometas são corpos celestes compostos de rochas e gases congelados. Atrás deles se forma uma nuvem de poeira ou gás, que constitui a cauda. Ao entrar em contato com a atmosfera terrestre, a maioria dos fragmentos dos cometas se desintegra, formando os meteoros, um fenômeno luminoso. Os que conseguem ultrapassar essa barreira e alcançam a superfície terrestre são chamados meteoritos.


FONTE: Jornal Commercio (Recife-PE - Em 19/06/2011)

Postado por Givanilson Magalhães