Situadas em uma área privilegiada caracterizada pela paisagem da região Semiárida de Pernambuco, as comunidades ao longo do Riacho Olho D’Água desfrutaram durante muito tempo dos benefícios de uma fonte de água constante. O riacho, que abriga em seu entorno várias comunidades, é uma fonte de água para beber, cozinhar e tomar banho, e local de atividades que ao longo dos anos foram causando sua degradação, como a lavagem de roupas e o lançamento inapropriado de lixo e dejetos. A redução do fluxo e volume de água, causado em grande parte pela erosão da vegetação ao longo de sua margem e pela poluição da água, levou grupos locais a tomarem medidas para reverter os danos ambientais.
Em 2002, uma parceria entre o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais, o Centro de Educação Comunitária Rural e o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Santa Cruz da Baixa Verde, introduziram a revitalização do riacho. Visitas às famílias locais foi o primeiro passo desta ação, numa tentativa de educá-las sobre as consequências ambientais causadas por práticas existentes na comunidade. Mutirões foram organizados para a remoção do lixo, áreas de lavanderias especiais equipadas com sistema de filtragem de água foram construídas, e criou-se campanhas de informação e oficinas educativas. Professores de escolas locais, o governo municipal e a Universidade Federal de Pernambuco também participaram dos esforços. O projeto buscou focar nas necessidades e realidades específicas da população local e do meio ambiente. Pesquisas sobre a realidade sócioeconômica, bem como a avaliação das condições ambientais e de espécies nativas da região serviram de base para suas ações.
Um dos maiores desafios encontrados foi persuadir a comunidade local sobre a importância de que a água é um recurso limitado para convencê-los a mudar os padrões de comportamento enraizados. A educação tem um papel crucial a desempenhar nestes esforços, mas segundo Daniel Ferreira, Assessor de Comunicação, e Rivaneide Almeida, Assessora Técnica do CECOR, “o diálogo com o poder público para inserção da temática ambiental contextualizada com o Semiárido na matriz curricular das escolas públicas” permanece um desafio.
É neste aspecto da educação que a BrazilFoundation procurou colaborar, selecionando para apoio em 2010 o projeto “Brotinhos do Riacho Olho D’Água”, desenvolvido pela comunidade do Riacho Olho D’Água e a CECOR. O projeto visa capacitar jovens para atuarem como líderes comunitários com “a proposta de desenvolver um ‘pensar’ ambiental em conjunto com esses jovens, através de um processo formador participativo que tenha esses grupos como protagonistas do Brotinhos do Riacho Olho D’Água. Os jovens têm um grande potencial de mobilização e capacidade para a multiplicação dos saberes e conhecimentos,” comentam Rivaneide e Daniel.
O apoio da BrazilFoundation também possibilitará a construção de estufas comunitárias para o cultivo de plantas nativas, visando a recuperação da mata ciliar, além de proporcionar oportunidades de geração de renda para as famílias e alunos envolvidos no projeto.
A experiência do Riacho Olho D’Água mostra que, longe de estarem em conflito com o desenvolvimento econômico, a preservação e a conscientização ambiental podem ser a solução para a melhora da qualidade de vida e a sustentabilidade. Pode-se observar também como soluções locais para problemas locais podem se beneficiar muito de apoio externo, como o proporcionado pela BrazilFoundation.
Por Nara Gomes - Nascida em Poços de Caldas, Minas Gerais. Nara Gomes é voluntária da BrazilFoundation em Nova York e recentemente concluiu seus estudos de mestrado em Ciência Política na Columbia University (FONTE: CECOR)